O vereador Rafael Bueno/PDT, formado em Geografia, trouxe na sessão ordinária desta quarta-feira (06/06) esclarecimentos feitos por 18 professores doutores da Faculdade de Agronomia da UFRGS a respeito da importância das árvores para o meio ambiente e para evitar que as recentes tragédias como as enchentes no Estado se ampliassem.

"Ouvimos com surpresa e uma certa incredulidade as declarações de vereadores de alguns municípios do Rio Grande do Sul nas últimas semanas, defendendo o corte de árvores, sejam de mata nativa ou plantada ao lado de estradas, ou em áreas de encostas e topos de morros, como uma medida preventiva para evitar os deslizamentos. Em um primeiro momento, nos chama a atenção o completo desconhecimento desses representantes do povo de seus municípios, não apenas sobre o tema em si, mas sobre a forma de atuação de instituições e órgãos governamentais nos âmbitos estadual e federal", diz o começo da carta lida pelo vereador em plenário.

Citando as informações dos docentes, o parlamentar destacou que "esse desconhecimento, soma-se, muitas vezes, a avidez em defender interesses de grupos específicos, em detrimento do interesse de toda a sociedade."

Diz ainda a carta que "as áreas de floresta são as mais protegidas contra a erosão do solo e os deslizamentos. O sistema radicular é um fator de agregação e estruturação do solo, conferindo-lhe maior resistência aos processos de degradação... Ademais, as raízes das plantas – no caso, as árvores – funcionam como uma bomba absorvendo a água do solo, e dessa forma retardam o umedecimento extremo (saturação) do solo."

"A cobertura vegetal produzida pela floresta intercepta um grande volume de água da chuva em comparação às demais coberturas vegetais. Essa cobertura impede o impacto das chuvas diretamente sobre o solo e, dessa forma, impede e/ou minimiza a desagregação e o transporte de partículas do solo pelo escoamento superficial."

Em relação ao comentário de que “os deslizamentos acontecem só nas áreas com matas”, como sendo uma prova de que as florestas e matas naturais provocariam esses eventos, cabem ainda algumas observações para reforçar o equívoco da afirmativa proferida:

Os deslizamentos ocorrem normalmente em áreas declivosas (terrenos “inclinados”), que aumentam a atuação da força da gravidade, e onde os solos, pelas suas próprias características, apresentam menor capacidade de armazenamento de água. Essas áreas são (ou deveriam ser) cobertas por vegetação natural, como uma forma de proteção contra a erosão do solo, transporte de sedimentos de diferentes tamanhos e até deslizamentos, pelos mecanismos já explicados.

"Em resumo, a vegetação nativa (e especialmente as árvores nativas) proporcionam maior resistência às forças de degradação, pois compõem vegetação natural do local, com pouca intervenção antrópica, ou seja, pouca movimentação no solo e no ambiente. Porém, o que ocorreu no Rio Grande do Sul foi uma precipitação muitas vezes acima das médias mensais para várias regiões em um pequeno intervalo de tempo... Cabe ressaltar que, se não houvesse essas áreas de mata nativa, conforme os parlamentares estão defendendo, teríamos um cenário ainda muito pior; realmente um cenário sem precedentes."

Os professores ainda se colocaram à disposição da sociedade, como têm feito nos últimos anos, seja por meio de pesquisas ou esclarecimentos técnicos.

"É importante ressaltar também que, frente a essa situação de catástrofe enfrentada pelo povo gaúcho, estamos apoiando e participando de ações emergenciais em várias frentes, assim como trabalhando em propostas de curto, médio e longo prazo para o enfrentamento de emergências climáticas e ambientais."