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A certeza de que o plano de revitalização do bairro São Pelegrino impactará toda a cidade de Caxias do Sul teve consenso na audiência pública, realizada na tarde desta sexta-feira (20), no Plenário da Câmara Municipal. Com perfil técnico, o debate visou a sugerir outras possibilidades para se refletir sobre as readequações ao trânsito da região, a partir da inauguração do San Pelegrino Shopping Mall, prevista para o final de setembro. A justificativa levou em conta o fato de que outros bairros do município, sobretudo, no sentido Norte-Sul, valem-se da Avenida Rio Branco, como forma de ligação. O encontro foi promovido pela Comissão de Legislação Participativa e Comunitária, presidida pelo vereador Rodrigo Beltrão/PT.
Os debatedores comentaram sobre o estudo de impacto urbano, desenvolvido pelo empreendedor do shopping. O levantamento apontou modificações viárias para que a região comporte o fluxo de veículos que acessarão ao local. Em decorrência dos 41.870 metros quadrados da edificação, a análise indicou a necessidade de se absorverem 75 centímetros da calçada do lado direito da Avenida Rio Branco. O objetivo é viabilizar a construção de terceira pista. A largura da calçada, em metros, passaria dos atuais 4,25 para 3,5.
Junto com a proposta, contudo, acendeu-se uma polêmica. Motivo de contrariedade entre os 50 mil moradores de São Pelegrino, ela foi entoada pelas dezenas de representantes da região, que compareceram à audiência. Mesmo que a terceira pista da Rio Branco venha a aumentar, em 50%, a capacidade da via, ela trará, como consequência, o corte de 23 árvores com a redução da calçada. Assim, 19 pés, que ainda não atingiram a maturidade, deverão ser replantados junto ao Largo Padre Giordani.
O secretário de Trânsito, Transporte e Mobilidade, Jorge Spinelli Dutra, afirmou que, das 17 medidas estruturadoras de São Pelegrino, ainda não foi autorizada a absorção da calçada. Disse, contudo, que, em breve, o empreendimento colocará em prática outras etapas previstas. A meta maior é desafogar os 10,7 metros da Rio Branco, ponteados pela Av. Itália e pela rua Machado de Assis, no sentido Norte-Sul, por onde se dará o acesso principal ao centro de compras, explica. Atualmente, pelo trecho, passam 1,9 mil veículos por hora.
Dutra contou que as obras abrirão a rua Antônio Pisani. Além disso, a curva entre a rua Feijó Júnior e a Rio Branco será substituída por uma praça, oferecendo mais uma opção de lazer, detalhou. O secretário acrescentou que o trecho da Feijó Júnior, cortado pela rua Sinimbu e pela rua Os 18 do Forte, passará a ser de mão dupla. Desse modo, quem se deslocar para o Sul poderá ir, também, pela Feijó Júnior, disse.
Segundo Dutra, pela Rio Branco, será possível acessar a 481 vagas de estacionamento do shopping, por meio de garagens de dois sub-solos. Pelas ruas Cremona e General Osório, se dará o acesso à garagem superior, com 88 lugares para veículos automotores. Nesse pavimento, haverá cinco salas de cinema multiplex. A saída do centro de compras será pelas ruas Machado de Assis e La Salle. No total, o centro de compras terá 590 boxes para estacionar.
Na sequência, o secretário do Planejamento, Paulo Dahmer, tratou de alterações, já programadas, para a Via Férrea, situada na região de São Pelegrino. Lembrou, porém, que o aproveitamento dos trilhos, para a implantação dos chamados VLT (veículos leves sobre trilhos), ainda depende de convênio com o governo federal. Ele pretende que as futuras linhas se estendam até o Centro de Caxias e abranjam, inclusive, cidades adjacentes à Caxias do Sul.
O plano de revitalização prevê, também, que, às margens dos trilhos, haja praça longitudinal, com ciclovia e pista de caminhada, a fim de potencializar o que os presentes à reunião chamaram de vocação turística da localidade.
Em tom veemente, o ex-secretário municipal de Transporte e Planejamento, o arquiteto-urbanista Edson Marchioro, criticou a lógica caxiense de mobilidade urbana. Para ele, o modelo repete equívoco de outras cidades. A seu ver, há prioridade a veículos, em detrimento de pessoas. Sugeriu medidas que restrinjam o transporte individual em carros. Entre elas, está a cobrança de pedágio na região central. Destacou ser viável ligar, em 64 quilômetros de área férrea, os municípios de Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Farroupilha e Garibaldi, mediante 16 horários de VLT por dia.
Enquanto isso, o especialista em Engenharia de Trânsito Mauri Panitz apontou para a necessidade de estudos de capacidade de passeio. Para ele, seria uma forma de, também, contemplar o impacto das modificações no trânsito dos pedestres. Concordou com uma das alternativas ao corte de árvores: em vez de estreitar a calçada em um dos lados, ocorreria a eliminação das 25 vagas do estacionamento, localizado na parte oposta da avenida.
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro São Pelegrino, Antíoco Sartor, reconheceu as necessidades que se impõem para garantir o fluxo de trânsito. Advertiu, no entanto, que a rotina dos moradores tem que ser preservada. Lembrou que 40% da população do bairro constitui-se de idosos.
Ao término da audiência, a vereadora Ana Corso/PT criticou o que chamou de prevalência de interesses comerciais aos públicos. Denise Pessôa/PT questionou o nível de benefícios que a redução da calçada, na Rio Branco, acarretaria para a mobilidade urbana do município.
Em seguida, o presidente da Comissão de Legislação Participativa, Rodrigo Beltrão/PT, acolheu pedido de Daniel Guerra/PSDB. O parlamentar tucano solicitou que, por meio de indicação, o grupo encaminhe ao prefeito José Ivo Sartori a ideia de que a prefeitura contrate empresas de consultoria. Seria uma forma de aprofundar o estudo de impacto de trânsito em São Pelegrino, propôs Guerra.
Além do presidente Beltrão, de Ana, Denise e Guerra, integram a Comissão os parlamentares Assis Melo/PCdoB e Renato Nunes/PRB. Entre outras autoridades, também compareceram os vereadores Elói Frizzo/PSB, Harty Moisés Paese/PDT (presidente da Casa) e Mauro Pereira/PMDB, bem como, o arquiteto da Secretaria do Planejamento Jurez Marchioro e o diretor de Trânsito da prefeitura, Carlos Noll.