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A Câmara Municipal de Caxias do Sul possui estagiários de diferentes idades, sendo a maioria entre 20 e 22 anos e da área de Comunicação. A média geral fica na faixa dos 22 anos e todos ingressaram por processo seletivo para desenvolver atividades nos setores administrativos e nos gabinetes parlamentares. De um total de 33 estudantes de Ensino Médio e Ensino Superior chamados ainda em 2023 ou no início deste ano, a maior parte é do sexo feminino (18 mulheres).
Uma das mais recentes estagiárias cursa Jornalismo no Centro Universitário da Serra Gaúcha/FSG e registra uma trajetória bonita, especialmente porque tem suas origens na agricultura e sempre sonhou ser jornalista, mas só teve coragem de retomar os estudos graças ao impulso dos filhos. Marinês Moretti Bertuol, 44 anos, nasceu na localidade de Morro Gaúcho, interior de Vale Real/RS, e veio para Caxias com 18 anos, logo após casar com o empresário Gilberto Bertuol. Na infância e na adolescência, Mari, como é chamada, auxiliou os pais no plantio de hortifrutigranjeiros. Participava no cultivo de uva, tomate, cebola e beterraba, além de deixar a residência em ordem. Seu desejo, entretanto, era buscar uma profissão ligada à Comunicação, pois gostava de ler. Assim que chegou ao município caxiense, porém, conseguiu emprego no comércio e depois na produção de malhas. Enquanto trabalhava nesses segmentos, teve os dois filhos: Pedro, hoje com 19 anos, e Ana Luiza, 14 anos.
Em 2017, a vontade de fazer um curso superior reacendeu. Por incentivo de Pedro, principalmente, prestou vestibular para Jornalismo e passou. “Tenho guardado até agora o documento de aprovação. Na hora, fiquei na dúvida se fazia a matrícula, mas meu filho disse: ‘mãe, agora que passou, tem de cursar’, e criei coragem”, recorda Mari (na foto).
Crédito da foto: Luan Hagge/Câmara Caxias
A volta aos estudos lhe ajudou a abrir horizontes e a coragem da acadêmica foi além do acesso à universidade. Em 2022, realizou outro sonho: fazer um intercâmbio no Canadá. Permaneceu um mês em solo estrangeiro, longe dos filhos e do marido, para se aprimorar no Inglês. “Percebo que a decisão de buscar mais conhecimento abriu meu olhar e meus caminhos. Sinto que, se realmente quero fazer algo para melhorar a vida, hoje, eu posso”, reflete a estagiária, que não para de surpreender.
Para custear a faculdade e contribuir no sustento da família, trabalhou muito, inclusive, limpando prédios. Mari diz que procura fazer tudo com dedicação e cuidado, tanto as limpezas quanto as entrevistas e pesquisas que dão vida a textos, fotos e vídeos que ajudam a narrar as histórias das pessoas e das comunidades em que se encontram. Recentemente, apresentou um dos programas veiculados na TV Câmara intitulado “Direto da Redação”. Encaminhou o link a seus pais Alcides Moretti, 77 anos, e Dilva Moretti, 75 anos, que ainda vivem na colônia. De retorno, conquistou elogios. “A mãe disse que o pai quase chorou”, revela a futura jornalista, emocionada.
Programa "Direto da Redação", da TV Câmara Caxias, com apresentação da estudante de Jornalismo Marinês Bertuol:
Função social
Na Câmara, atualmente, além de Mari, há mais sete estagiários de Jornalismo. A eles, se somam oito estudantes de Publicidade, três de Letras, três de Direito, dois de Comunicação/Produção Audiovisual, dois de Relações Públicas, dois de Informática, dois de Ensino Médio, um de Marketing Digital, um de Design de Animação e um de Ciências Contábeis. Todos supervisionados por profissionais das respectivas áreas que trabalham no Parlamento exercendo cargos efetivos ou em comissão.
Diretora-geral da Casa, Luzia Ester Santos Oss realça a função social tanto dos órgãos públicos quanto da iniciativa privada de abrir espaço a estágios remunerados ou curriculares. “Observo a atuação dos estagiários como uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo que aprendem conosco, a gente aprende com eles, pois trazem novidades dos cursos que frequentam e nos auxiliam na parte operacional do trabalho. Assim, vejo como uma cooperação indispensável”, afirma Luzia, que já estagiou num escritório de advocacia na época do curso de Direito. Na sua avaliação, é também compromisso do poder Legislativo acolher as novas gerações que preparam para o mercado de trabalho.
O atual diretor do Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da Universidade de Caxias do Sul, Anthony Beux Tessari, 35 anos, era estudante de História quando foi estagiário no Parlamento caxiense, em 2010. Tinha 22 anos e atuou no Centro de Memória, onde pôde se aprofundar sobre os acontecimentos que marcaram o percurso político da Câmara e de Caxias do Sul ao longo dos anos. Essa experiência, registra ele, foi fundamental e tem colaborado para sua ação à frente do IMHC e como docente, desde 2015. Ele encaminhou um testemunho significativo sobre o que vivenciou na Casa do Povo. Acompanhe:
Aprendizado no Legislativo como alicerce
Crédito da foto: Bruno Zulian/UCS
“Minha experiência profissional na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul ocorreu durante todo o ano de 2010, quando realizei estágio no Centro de Memória da instituição. Foi uma passagem de apenas um ano, pois era o meu último ano como estudante de graduação em História pela UCS. Minhas principais atividades no setor estavam ligadas ao meu curso, ou seja, o trabalho voltado à organização de arquivos históricos, o que foi uma excelente oportunidade para aliar teoria e prática. Tive dois supervisores responsáveis durante o período do estágio: primeiro, a Geni Salete Onzi (que se aposentou em seguida), depois, o Eduardo Ziegler Reis (que assumiu vaga de concurso). Ambos são historiadores, e pessoas marcantes em minha trajetória, pois me ensinaram muito.
Com o Eduardo, mantive mais contato, mesmo após encerrar o estágio na Câmara, e ele foi um grande incentivador para que eu cursasse o Mestrado em História na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (onde ele havia estudado), e eu efetivamente segui esse caminho, inclusive, com uma bolsa de estudos. Ao mesmo tempo, fui trabalhar no Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e levei muitas aprendizagens que construí na Câmara para esse novo emprego.
Em 2015, passei a ser professor na UCS, e assumi a direção do IMHC, estando nessa mesma função atualmente. Desde 2021, estou cursando o Doutorado em História na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Possuo mais de 10 livros publicados na área de História, e tenho a previsão de publicar mais três ainda neste ano de 2024. Todas essas publicações têm um pouco da Câmara, principalmente na forma de lidar com as fontes históricas, que era o trabalho que eu auxiliava a fazer no Centro de Memória. Tenho a convicção de que a minha experiência como estagiário na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul foi um dos alicerces importantes na minha trajetória, pois o ambiente era acolhedor, estimulante para aprender e para me expressar, o que me ajudou a optar em continuar minha atuação profissional na área de História”. (Depoimento de Anthony Beux Tessari, 35 anos, que foi estagiário do Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul em 2010 e, hoje, é diretor do Instituto Memória Histórica e Cultural/IMHC da UCS e professor na instituição)
Crédito da foto: Acervo IMHC/UCS
Participação de Anthony no programa Roda de Saberes, da TV Câmara Caxias, já como diretor do IMHC: